quinta-feira, 20 de maio de 2010

Um sonho louco

Estava amarrado com as mãos para trás. O equipamento de tortura ali do lado. Estava nu. Dois sujeitos em volta, rodeando a carne prestes a fritar. Eu acordei. Abri os olhos e percebi que estava nu. Olhei para os lados e eu estava no meu quarto. Olhei melhor para o canto do quarto e vi o equipamento de tortura ali do lado. De repente, antes que eu pudesse me levantar, eles entraram no quarto e lutei até ficar muito cansado. Adormeci durante a peleja. Algum tempo depois, acordei. Olhei para os lados e não reconheci nada ao meu redor. Ouvi alguns passos e um conversa estranha do lado de fora do que seria o meu quarto. Notei a cama muito abaixo do padrão da que costumo usar. Quando pisei no chão, não haviam tacos de madeira, apenas um chão de cimento, frio e sujo. Abriram a porta e entraram sem cerimônia. Pareciam me conhecer há muito tempo. Chamavam-se de Zé. São pouquíssimas pessoas que me chamam assim, alguns por carinho, porém aqueles dois não tinham essa intenção. Iniciaram uma pergunta como se esta já me tivesse sido feita várias vezes. A verdade é que eu só notei que se tratava de uma pergunta pela entonação final da frase "não é mesmo, seu filho-da-puta?". Eu disse que não sabia do que falavam. Eu estava de licença-médica, para tratar dos nervos, e então acordei ali, naquele lugar. Eu voltei a adormecer de repente e foi como se tivesse acordado alguns segundos depois. O caso é que não poderia ter sido assim. Eu estava com uma barba muito comprida e parecia muito mais magro do que quando adormeci pela última vez. Eu estava num ônibus em Goiás. Estranho. Eu morava em Belo Horizonte há pelos menos dois anos e meio. Estava usando roupas que não costumo usar. Apesar da barba comprida, os cabelos estavam bem arrumados. Carregava também uma pasta. Desci do ônibus e caminhei até um prédio público. Pareciam me esperar. Chamaram-me de José e deixaram-me entrar numa sala. Esperei alguns minutos. Um senhor entrou na sala e perguntou "trouxe a minha encomenda?". Não entendi a pergunta. Estava carregando apenas uma pasta. Resolvi olhar o que tinha dentro dela, mantendo o olhar também no senhor que me chamou de José. Toquei no fundo da pasta e apalpei um negócio frio. Quando retirei da pasta e vi que era uma arma, um filme progrediu em minha cabeça rapidamente, sem que eu tivesse tempo para assimilá-lo. "Páááá!" O senhor caiu na minha frente. Um buraco no rosto parecia de uma bala. Levantei da cadeira e olhei para os lados, a porta estava fechada. Talvez alguém tivesse escutado o barulho, a queda do senhor - ele era grande e gordo -, mas ninguém veio até a sala. Olhei para baixo e vi na minha mão a arma que retirara da pasta. Não sei o que fizeram comigo, mas eu voltei a dormir e acordei novamente, imagino, alguns anos depois, pois numa tarde de domingo eu vira duas crianças pulando do lado da cama e chamavam-me de "pai". Não os reconheci. Imagino que não sejam meus filhos. Voltei a dormir, e só acordei novamente numa sala de hospital. Havia muita gritaria e muito sangue. Diziam para eu não me preocupar. "O tiro foi de raspão." Eu, que nunca havia tocado em uma arma, agora estava num pronto-socorro todo ensanguentado. Olhei para fora da sala de atendimento tentando identificar alguém, algum conhecido. Vi apenas um militar por um vitrô, não desses militares da PM. Parecia algum oficial da marinha ou da aeronáutica. Não sei. Voltei a dormir. Dessa vez acordei muito velho, sem forças para levantar da cama. Olhei para um armário do lado oposto do quarto e esforcei-me para levantar o corpo até vislumbrar meu rosto num espelho. Eu estava muito velho. Todos os cabelos do meu rosto estavam brancos. Tentei um sorriso e vi que me faltavam dentes. O que aconteceu comigo naqueles dias de licença-médica?

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