segunda-feira, 31 de maio de 2010

Outra história

Rubens era um rapaz solitário. Morava num beco, no centro da cidade. Todo dia saía cedo para trabalhar. Era segurança de banco. Tinha uma arma, mas nunca atirara em alguém, apenas em placas de papelão do campo de tiro improvisado pela empresa de segurança. Caminhava até o banco e chegava em poucos minutos ao trabalho. Não fazia muita questão de ação, por isso trabalhava na maior agência bancária da região. Imaginava que o grande fluxo de clientes atrapalhasse qualquer investida de assaltantes de bancos. Imaginou certo. Depois de cinco anos trabalhando naquela profissão, nunca precisou sacar a arma no banco. No entanto, certo dia, ao voltar para casa foi abordado por um desconhecido. Este o fez muitas perguntas, engatilhadas rapidamente. O assunto era o banco. Rubens ficou nervoso e matou ali mesmo, na esquina da padaria, o desconhecido. Olhou para os lados e viu que muitas pessoas assustadas o olhavam. Correu. Correu o mais que pôde. Chegando em casa, desfez-se das roupas e da arma. Guardou-a no banheiro. Sentou na cama, esbaforido ainda pela corrida. Ligou a televisão - coisa que não fazia nunca durante o dia - e procurou com o controle remoto qualquer notícia sobre o assassinato. Nada. Desligou a tevê. Deitou naquele momento buscando um fio de paz nos pensamentos, mas sua cabeça só martelava a cena repetidamente. Fechava os olhos, mas parecia que o impacto das imagens era tão forte que tinha a impressão de estar com eles abertos. Levantou, pegou um livro na cabeceira da cama e caminhou até o banheiro. Quando saiu do banheiro tentou novamente a televisão. Era o noticiário. Surpreso, sentou-se na cama e acompanhou-o com especial atenção. Uma notícia sobre acidente de automóvel na rodovia o fez perder a calma. Outra notícia sobre os preços dos alimentos o deixou mais impaciente ainda. Finalmente. Era sobre o assassinato. Concentrou-se nos lábios da apresentadora do telejornal. Ouviu a palavra "assaltante". Pensou que era ele. O confundiram com um assaltante, só podia ser. Ouviu então a palavra "bancos". Era ele mesmo. Descobriram que trabalhava em banco. Levantou-se suando frio. O que iria fazer? De costas para o aparelho, ouviu então que tinham imagens do assaltante "morto". Surpreso, voltou-se para a televisão e, enfim, uma boa notícia. Aliás, ótima notícia. "O homem encontrado morto no centro da cidade fazia parte de uma quadrilha de assaltantes de bancos. A polícia estava à sua caça há seis meses, quando estas imagens foram filmadas no interior do estado. Testemunhas afirmam que ele foi baleado por um rapaz jovem, porém de boa aparência, que parecia muito nervoso. Conforme o delegado, foram encontrados com o morto papéis comprometedores que, suspeita-se, sejam relacionados a um plano de assalto na cidade. Dessa forma, continuou o delegado, a polícia vai focar, primeiramente, no morto e somente depois ir atrás de informações sobre o assassino." O sorriso de Rubens transformou-se em desespero. (Continua...)

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