quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Fast-Food, Slow Shit

Os dias andavam muito parados. Nenhum vagabundo para roubar. Você diria: "Mas tem muito otário por aí!". Realmente, isso não falta em Belo Horizonte. Só que não posso sair por aí e dar uns golpes em qualquer um. Tem muito trabalhador aí, com conta para pagar, com filho pra nascer, com mãe doente no hospital. E o que eu faço nessas horas? Seleção, naturalmente. Eu fico de mutuca nas esquinas. Outro dia, por exemplo, eu saí da pastelaria do Chico. Os melhores pastéis do Centro. Eu não falo isso pro Chico porque ele vai querer aumentar o preço do conjunto de pastéis com caldo de cana. Então, saindo de lá, ainda tirando aquele óleo do beiço, um playboy me deu uma cotovelada. O sujeito, de mochila nas costas e óculos escuros, olhou pra trás e soltou um: "Olha por onde anda, filhodaputa!". Surpreendente isso! Ele tirou a frase da minha boca. Se eu não tivesse ainda limpando aquele beiço besuntado, eu tinha sido mais rápido do que ele. Mas não foi o palavrão que me mordeu, foi o sorrisinho de canto de boca que ele soltou. Aquilo ligou o meu sistema e eu fui atrás dele. Desceu a Amazonas e foi dar lá naquele fast-food da Praça Sete. Esperei o infeliz lendo os jornais da banca da Carijós. Quando o malandro saiu do estabelecimento com os pacotinhos de hambúrguer, eu fingi abaixar para amarrar o sapato e dei um furo no pé dele. Ele gritou, mas eu levantei rápido calando o infeliz e mandando o recado com lábio sujo ainda do pastel: "Da próxima vez, meu chegado, não vai adivinhando a profissão da minha falecida mãe em voz alta, não. Passa aqui esse negócio!" Deixei o moleque parado lá, na surdina. Uma pena eu furar o pé dele com uma tesoura. Aquele tênis ia ficar legal no meu pé. O sujeito nem experimentou o bagulho com fritas. Como é que se diz? "Fast-food, slow shit."

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