terça-feira, 8 de junho de 2010

Olhando nos olhos...

O dia começou tranquilo às 13 horas. Olhou nos próprios olhos enquanto lavava o rosto. A ausência de lentes dificultava tal ação. Não poderia descrever quem estava à sua frente, no espelho. Caminhou as mãos pelo balcão do banheiro e pegou os óculos. Entrou no quarto - ou seja, saiu do banheiro - e foi atrás de roupas limpas. Uma tentativa de vestir-se do jeito que outras pessoas se vestem, pelo menos no ambiente para o qual pretendia dirigir-se. Um banco. Pretendia sacar todo o seguro-desemprego. E não gastá-lo, mesmo numa crise daquelas, mesmo na intenção de comprar mais livros para um biblioteca invisível que não possuía em casa, no quarto da bagunça. Olhando nos olhos do caixa, cometeu o seu maio delito: olhar nos olhos do outro. De repente, um alarme soou. Luzes piscaram. Ele evitou colocar as mãos nos bolsos, única alternativa que tinha quando ficava nervoso. Pensou. Se coloca, eles pensarão que é uma arma. E não era, juraria pela mãe mortinha. Estava desempregado, mas não era ladrão. Tinha escrúpulos, ainda. Apesar de não trabalhar mais. Eu vou sair daqui, pensava. Quem sabe não é comigo, continuava. O caixa devolveu o cartão. Ele balbuciou que queria o dinheiro, mas isso não era mais importante. A situação agora era outra. Olhou nos olhos de outra pessoa, profundamente. Isso não era comum. Cometeu um crime? Saiu com as mãos para os altos, uma vontade enorme de colocá-las nos bolsos. Estavam suadas. Estava nervoso. De repente, a escuridão caiu sobre sua cabeça. Até quando ele cairia nessas conspirações vespertinas? Pretendia sair dessa para uma melhor. Não cometera nenhum crime. Apenas olhou nos olhos...

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