segunda-feira, 21 de junho de 2010

O bandido andava a pé

O bandido. Anti-social. Andava a pé, nunca de carro, de ônibus, de moto ou de metrô. Caminhava no centrão, aquele que as pessoas mais sensíveis abominam, onde o cartão-postal é uma passagem apenas de ida. O bandido andava a pé, cercando as vítimas. Multifuncional. Era assassino, ladrão, estelionatário e bicheiro. Esta última, sua profissão. As outras atividades, seus hobbies. Um crápula, dizia sua primeira mulher. Um safardana, praguejava sua segunda sogra. Meu pai, sorriam seus dez filhos. Um sujeito, uma vez, questionou-o no bar, altas horas da madrugada. "Você não dirige?" O bandido sentiu lá dentro do seu coração uma dor. Sim, ele tinha um. A dor passou assim que ele rasgou a garganta do infeliz em golpe já estudado pelos maiores legistas do país. Nunca o identificaram em várias investigações de assassinatos nas cinco regiões. Ele lamenta. Os jornais não publicam mais as fotos de suas vítimas. Era apenas um bandido que andava a pé. Foi o último comentário sobre sua passagem na terra. Morreu de velhice, no interior de Minas Gerais.

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