sábado, 5 de junho de 2010

O escritor fantasma percorre livrarias

Não deveria ter feito isso novamente. As livrarias não me conhecem. Os leitores não me reconhecem. A mídia não sabe o trabalho que dá escrever apenas sucessos de vendas. Ou esperam que uma patricinha da Barra saiba escrever sobre os sentimentos de uma reclusa? Ou esperam que um político profissional saiba escrever sobre a vida brasileira no século passado? Eu gostaria de saber o que os leitores acham do autor, do autor sem o conhecimento da figura denominada como autor. Eu gostaria de matar todos eles. Pseudo-autores e leitores ignorantes. Uma vez eu abordei um leitor que folheava o "meu" último livro. Na época, lançara uma "auto-biografia" de uma estrela do rock. O jovem estava entretido com todas aquelas descrições, todos aqueles diálogos. Quando percebeu que eu estava olhando, me inquiriu daquele jeito que só os jovens sabem fazer. "Qual é?" Nada, eu respondi. "Então, velho, sai fora!" E eu disse que não precisava aquele ódio, que eu trabalhava na editora do livro, e que gostaria de saber a impressão que tivera sobre o autor daquele livro. O jovem não compreendeu a pergunta e foi logo falando sobre o último disco daquela estrela do rock. Eu corrigi a pergunta e o questionei sobre o autor do livro e não sobre a estrela do rock. Ele não entendeu a pergunta. Eu forcei então uma abordagem sobre o que estava escrito, perguntei sobre o que ele gostou no livro. Ele então respondeu que gostou das cenas sobre uso de drogas, sobre os diálogos travados em momentos adversos da turnê. Eu perguntei então se o jovem saberia dizer se o que ele lera era real ou imaginação. "Claro que é real! Ele não ia escrever mentiras! Você já ouviu as letras das músicas dele?" Eu fiz uma pequena observação, imaginando que seria ali o final da conversa. Você saberia me dizer como essa estrela do rock, mesmo dopada por altas doses de álcool, cocaína e heroína, teria condições de registrar fidedignamente tudo o que aconteceu durante seus períodos de vício, em coma ou desacordado? A resposta foi um soco na minha cara. O jovem pegou o livro e foi até o caixa pagá-lo. Na volta ainda cuspiu em mim e chutou o meu saco.

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