quarta-feira, 9 de junho de 2010

O assassino de aluguel

Centro de Belo Horizonte. Praça 7. Dentre os cartazistas humanos, um se destaca pelo silêncio de sua figura. Não desbloqueia celular, não compra e não vende ouro, não corta cabelos, não faz orçamento dentário sem compromisso. Sentado sob a sombra da Carijós, o sujeito expõe um cartaz "Assassino de Aluguel". Preciso conferir se é realidade ou ilusão de ótica. Eu me aproximo dele para tentar ler mais informações no cartaz e não há nada além da frase, em vermelho. Você mata? - a pergunta é óbvia, mas eu tinha que fazê-la. Sim, é a resposta. Quanto? Depende. De quê? Do defunto. Parece ser profissional. Já trata o trabalho como feito. "Defunto". Um político, complemento, quanto custa? Depende. De quê? Do escalão. Senador? Bem, local ou de fora? De fora. Aí fica caro. Quanto? Só um momento. O sujeito saca o celular e começa a discutir o assunto com outra pessoa do outro lado da linha. A linguagem parece codificada. Ele olha para os lados, suspeitoso. Não sei por quê. Ele está no centro de Belo Horizonte ostentando uma placa informando que é assassino de aluguel. De que poderia suspeitar? Desliga o celular e escreve num papel o preço do serviço. Eu achava que o trabalho seria mais caro. Pergunto sobre a forma de pagamento. Ele tira novamente o celular do bolso. Eu encerro a conversa ali. Sabe, meu amigo, esquece. Eu estou vendo que você e o seu companheiro são muito profissionais no que fazem, mas essa falta de informação sua, essa falta de conhecimento do assunto faz com que pareçam amadores. Prefiro não me arriscar. Ele olha para mim e diz que é o seu primeiro dia, que vendia próteses dentárias até às 10 horas da manhã, mas que foi demitido porque perdeu um cliente na subida dos degraus do prédio onde era feito o serviço. O velho não aguentou 5 lances de escada. Morreu ali, do coração. Foi então que surgiu esse bico de meio-período, sugestão de sua madrinha. Não podia recusar. A madrinha é uma segunda mãe da gente, falou. Eu me sensibilizei com a história, mas falei para ele que eu só queria saber o que ele estava vendendo. Agora, sabendo o que é, preciso pesquisar mais no mercado. Eu vou ali na rodoviária ver quanto é o serviço por lá e, dependendo do preço, eu volto. Nunca mais voltei.

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