terça-feira, 3 de agosto de 2010

Trabalhador-Pingente

A vida é difícil. Todo dia de manhã ele vai trabalhar agarrado na porta do ônibus. Balança para lá, balança para cá. Todo dia é dia de suplício. E nem começou a trabalhar. É só o caminho para tortura. Quando chega ao destino de todo trabalhador, começa a atividade de forma maquinal. O sono não permite uma mudança no semblante. Mal alimentado, balançou por algumas horas naquele transporte coletivo. Um transporte desumano, em que seres humanos são tratados como animais que vão para o abate. Os animais pagam o transporte com a própria vida. O trabalhador paga o transporte com o bilhete de passagem e com as horas que perde de sua vida indo e vindo. No final do dia, esgotado, o trabalhador sofre novamente o sofrimento do início do dia. O sono é substituído pelo cansaço de uma jornada estafante. O caminho é feito de pé, em ambiente apertado. As mulheres e os idosos sofrem mais, mas a escala de sofrimento não deve ser aplicada como meio de comparação entre a dor e falta de perspectiva de uma viagem tranquila. Na cidade grande os longos trajetos entre a moradia e o trabalho não permitem uma atividade mais saudável como uma caminhada. O trânsito insano de veículos não permite também outra alternativa de transporte como a bicicleta. O ciclista é o mais fraco entre carros, ônibus, caminhões e motos. O trabalhador-pingente um dia se esvairá como uma gota d'água no deserto.

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