sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Curitiba, Dalton!

Já me perdi na Curitiba de Trevisan. O cemitério de elefantes. As prostitutas. Os canalhas. Uma garoa fina, constante. As praças. Os telefonemas. As traições. Pingado em copo da rodoviária se bebe no canudo. Meio litro de café. Uma lágrima de leite.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A faixa amarela do metrô

Já sei o ponto exato da faixa amarela do metrô. Estação Lagoinha, sentido Vilarinho. O ponto exato para entrar no vagão e descer direto na escada da Estação 1º de Maio. Estratégico. Coisa de quem pega o trem todo santo dia. Tem uma falha na faixa. Desconfio que seja a interseção das faixas.

sábado, 20 de setembro de 2008

Nas Sombras III

Não saiu da peça. Adormecido no sofá. Único. O rebuliço lá fora. O pós-madrugada de corujas. Não parecia preocupado com o sol que entrava pela janela. Revirou a cabeça e esqueceu da vida. Ou vivia nos sonhos a velha utopia discutida em silêncio com outras pessoas. Companheiros. A manhã foi perdendo o sentido, abrindo caminho para a tarde. Ele resolveu levantar. Olhou no espelho. Não viu quem era. Não necessitava. Já sabia o texto de cór e salteado. Lavou o rosto e ganhou a rua. Magro, não fazia questão de alimentar-se. Entrou pelas velhas ruas movimentadas da cidade. Belo Horizonte. Longe do eixo. Os caminhos que o levaram à capital mineira só ele sabia. Não tinha amigos ali. Os companheiros de silêncio ficaram no passado. Foi necessário. Atravessou dua avenidas antes de se perder no parque. Era seu destino despistar estranhos, como aqueles que fizeram vigília do outro lado da rua no dia anterior. Como? Como ele sabia que eles estavam lá? Sabendo. Eles sempre estão à sua caça. Aguardando um passo em falso.

(Continua...)

Você já contou tudo o que paga?

Eu parei. Cansei de contar minhas contas. Dívidas. Ingratas. Trabalhar para viver. Viver para trabalhar. Um ‘tostines’ como diria o Mylton Severiano, editor da Caros Amigos, em sua Enfermaria. Resolvi contar histórias uns anos atrás, após entrar na faculdade de comunicação. Hoje, dedico parte do meu tempo para ler e escrever. Atividade amadora, porém deliciosa. Não conto linhas, palavras, pois o espaço é livre para voar. Às vezes, sou lacônico. Às vezes, um tagarela. Rato de dicionário. Adoro degustar palavras novas. Já me chamaram de irônico, cínico, mas me divirto com o gosto de palavras novas. Quando as ouço busco suas expressões gráficas e repito, repito muito seus significados. Zombeteiro? Não. Talvez. Quem sabe?

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Onde? Geleira de Belo Horizonte.

Outro dia um iceberg estacionou em BH. Em picadinhos, é verdade. Mas estacionou. Carros sentiram o peso de não ter seguro. Motoristas choraram. O trem não saiu do lugar. Pobres, que não tinha nadam, perderam tudo, em Carandaí. Um tragédia. Minha mulher fotografou as pedras de gelo que acumularam no jardim do condomínio. Deu vontade de armazenar no refrigerador. De recordação. Uma vizinha foi machucada. Uma lástima. Tão boazinha. Quando chegamos no sobradinho, ela nos deu tudo já que a mudança demorou 57 dias para chegar do Marrocos. Brinco. Não vim do Marrocos, vim de Goiânia. Logo ali, mas a bagunça demorou 57 dias. Quando acionei a companhia de mudanças na justiça, após inúmeras tentativas de reaver meus pertences, a maldita ainda recorreu. O processo ainda tá transitando em julgado. Execução. Mas, voltando ao assunto, a Pampulha sofreu com os "cubos" de gelo. Vi um mendigo levando pedrada na cabeça. Todo sorridente. Devia ter álcool até o olho. Nessas horas que eu levanto a mão a Deus. Tava no trabalho. Os vidros das janelas devem ter uns oito centímetros de expessura. As únicas coisas que já vi passarem ali foi vento e bala. Na verdade não vi a bala. Mas tá lá o buraco, na janela do alto do quarto andar.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

O boi

Olhou direto no retrovisor e viu um boi. Foi tão rápido que ao olhar novamente não havia mais retrovisor. Só um tênis. O motoboy pisou tão forte que deixou o chulezento no quebra-vento. Carro velho. Ainda tem quebra-vento. Virou à direita, entrou numa rua estreita. Pra cortar caminho. Subiu dois quarteirões. Quando desceu na frente da igreja, templo, o que seja, olhou pelo outro retrovisor. Pau! Lá se vai mais um... Não podia mais arriscar retornar à avenida grande. Contornou os jardins da praça e subiu por outra ruela. Ainda tinha um retrovisor. Aquele interno. Piscou. Piscou pra ver se acreditava nos próprios olhos. Um boi estava sentado no banco de trás. O boi.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Palavras portuguesas...

Navegando nas letras de Jorge Amado
Descubro uma camisola na montra
Nas palavras do português
Desembarcado em Salvador
O rapaz da venda desconhecia a língua:
- Falou duas palavras em francês e uma em inglês: vitrine, pulôver e suéter.

O buraco

O poeta habita
Um buraco escuro
Vivendo estrofes
Degustando palavras
Criando um mundo
Ímpar para duas pessoas,
No máximo.

Não faz de conta
Em mundo-de-faz-de-conta
Faz as contas das migalhas
Que recebe na lida diária
De seu ganha-pão.

Retorna todos os dias
Ao começo de seus poemas
Revisitando cada sensação
Como se fosse única
Como se fosse última.

Um dia não sairá do buraco
A obra permanecerá no compartimento
Excremento
Dos outros seres que habitam
O piso superior
De seu conjugado
Verbo finito.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O barulho do vento

Cercado por montanhas
O barulho do vento
É morno
Sentido norte-sul
Sobre o asfalto negro
Das artérias urbanas
Cidade grande
Gente pequena
Vislumbrando desenvolvimento
Onde vemos destruição.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Psiu... Eu preciso dormir...

Olha. Não tô querendo ser chato, mas já tá na hora. Amanhã tem trabalho. Trabalho ingrato. Durma com um problema desse, pois eu não durmo.

Nas Sombras II

Altas horas da noite. O logradouro está calado. Uma luz está acesa. Não se atreve a olhar pela janela o que se passa lá embaixo, nunca. Podem estar lá os curiosos da vida alheia, principalmente de pessoas reclusas. Imaginemos que nosso solitário esteja lendo um livro, um jornal. Não está. No apartamento não há nenhum tipo de leitura. Apesar dessa aridez, ele é do tipo que já leu muito. Como disse anteriormente, não ostenta nenhum papel. Quando entra ou quando sai. Ainda não estamos prontos para entrar no recinto em que os curiosos gostariam de estar. Algumas trancas especiais não permitem a entrada de estranhos sem deixar vestígio. A madrugada já está no ar. Hora de dormir. Há um carro do outro lado da rua, mas só nós sabemos. Na cama, o descanso é necessário ao trabalhador de 12 horas.

(Continua...)

sábado, 6 de setembro de 2008

Olhos Noturnos

A escuridão dos olhos noturnos
Ressaltam que enxergar longe
Não é atividade facilitada
Diuturnamente
Olhos noturnos que se sobrepõem
Aos dias inteiros de sofreguidão
Em trocas de guarda impacientes
Detalhes perdidos em silêncios
Avessos a palavras
Não verei outro raiar do sol
Enquanto essa névoa permanecer
Em meus olhos noturnos
Cantando sonetos descompassados
Cantigas antigas
Sonoros nãos ouvidos nos momentos
Enfadonhos da labuta
Não perderei meu encanto
Nos cantos tristes da história
Do trabalho.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vergonha na cara é para poucos...

Esperando na chuva os carros passarem à sua frente, fingindo não se importar com gotículas que se juntam ao tecido da roupa ou que escorrem pelas lentes dos óculos. Vergonha na cara é para poucos. Os poucos que passaram por cima de um veículo que fecha aquele cruzamento todo dia em horários de pico. A ocupação do asfalto por pedestres insatisfeitos não vai parar a cidade. Vai, sim, fazê-la respirar, pulsar.