domingo, 17 de outubro de 2010

Ponto morto na calçada

- Amor, você tem certeza que estacionou direito? O carro tá meio torto.
- Mulher, o que você entende de estacionar?
- Eu só estou falando que o carro está meio torto.
- Tá, tá, tá! Quando você descer, ele desentorta.
- Olha, Miguel, a próxima vez que me chamar de gorda...
- O que você vai fazer? Entrar numa academia?
Ao descer, a mulher, ainda magoada com o comentário do marido, pisou num degrau desconhecido. Ainda reclamou:
- Mas que rua esburacada!
- Viu! Não disse que a culpa não era minha? É da rua, mulher!
Eles juntaram os meninos e caminharam até a igreja, onde já começara o casamento. O menino mais curioso, o menor deles, olhando para trás, puxou o vestido da mãe. Queria dizer-lhe alguma coisa, mas a mãe, preocupada com a cerimônia, não lhe deu atenção. O menino, durante o casamento, ficou com aquela imagem na cabeça: um corpo na calçada, debaixo do carro do pai. A mãe, possivelmente, ao descer do carro pisara na cabeça do morto, o tal "degrau", o tal "buraco".

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