sábado, 8 de agosto de 2009

Uma pedra no sapato

Não era algo saudável correr pela rua descalço em pleno verão. Não era algo higiênico pisar em poças amareladas ou no lixo esparramado em via pública por uma população cada vez mais consciente, ambientalmente falando, ironicamente escrevendo. Mas ele tinha um problema no sapato. Uma pedra que se recusava a abandonar o conforto do sapato ortopédico. Lançou-se em fuga, descalço mesmo, rumo ao trabalho. No meio do caminho percebeu que não era dia útil. Não precisava mais correr. Parou, respirou, sentou. Do meio-fio começou a pensar como chegara àquilo. Correr descalço numa cidade grande não é exemplo, nem divertido. Não sabia se era sábado ou domingo, mas sabia que não tinha que ir trabalhar. Já estava sufocado pelos intervalos de segunda a sexta. Trabalhava numa bolha das dez às dezenove. Cobrava e era cobrado. A família já não o aguentava. Estressado, dormia noite e dia. Cansado, no máximo, batucava o teclado em busca de uma fuga da realidade. Construindo períodos percebeu que nem ali conseguia fugir do real, do assustador mundo real. A pedra do começo desta história não estava em seu sapato. Estava em sua cabeça.

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