terça-feira, 21 de abril de 2009

O frio que passou por baixo da porta

Era noite. Não havia uma alma viva na rua. O rádio, silencioso, cantava músicas repetidas. Programação para boi dormir. Um burburinho começou a entrar por baixo da porta. A temperatura baixou de repente. Abriram-se janelas para ver o sucedido. Cavalos de ferro caminhavam em carreata. Foguetes clareavam o céu. Panelas eram batidas. O povo estava na rua. Outro povo estava nas casas. Uma mulher era carregada nos braços de populares engomados trajando ternos negros. Ela estava de branco. Não era noiva. Já era mulher casada. O marido coordenava os seguranças por meio de radiocomunicadores. Parecia um balé, se não fosse a música ruim que começara a tocar repetindo o nome da mulher. O espetáculo durou até a madrugada. No dia seguinte, na televisão da padaria, a imagem de um velho repercutiu entre poucos. Os cabelos brancos foram substituídos pelo vestido branco. Outra imagem marcante apareceu na televisão logo em seguida. Ao lado da mulher de branco outro velho sorria. Sabia que era um velho por causa de outros carnavais. Naquele momento não poderia ser chamado de velho. Os cabelos eram muito negros assim como o bigode que lhe manchava a cara. Marca registrada. Satisfaziam-se os dois com a pobreza daqueles povos. Dos que saíram à rua e dos que mantiveram-se em casa na noite anterior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário