segunda-feira, 27 de abril de 2009

Questão de Ordem

A fila do metrô formigava os olhos. Escadas rolantes. A escuridão remediada por lâmpadas. O trilho. O trem. As portas se abrem. As pessoas entram. Um ordem torta. Primeiro os jovens, depois os velhos. Os jovens sentam, os velhos em pé. A viagem segue. As portas se abrem. Mais formigas entram. O trem abarrota. Os tarados bolinam. As mulheres suspiram. O trabalhador chora. Alguém grita. O tarado é linchado. No trilho um rastro de sangue denuncia o trajeto incomum da libido doentia.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Datilofotografia no Escuro Iluminado

Sem flashes. A imagem do herói hesitante surgiu no João Ceschiat. Noite de quarta-feira. Um chacal estava solto no palco. Ele estava morto? Difícil. Suas palavras estavam mais vivas do que nunca naquela boca, naquele olhar. Danislau também. Muito vivo. Dando entrevista. Dando um show. Aquela dança no vídeo. Aquela entrevista muda de John Lennon. Aquele sotaque. Poesia. A gente precisa de poesia. Não hesitei em ler aquela autobiografia no 5031. Quando a Suzana caiu no Sebastião de Brito, ainda me faltavam algumas páginas. Alguns fragmentos foram degustados mais de uma vez, por isso não dei cabo do livro antes de bater na minha rua. Gostaria de amanhã apreciar as Porcas Borboletas voarem em BH, mas tenho trabalho no dia seguinte. Vou bater asas para Brasília, onde represento meus colegas de labuta. Enquanto isso, ainda ouço os sons de datilofotografias captando as almas daqueles seres imaginários, imaginosos: o poeta Chacal e o ser Danislau Também.

terça-feira, 21 de abril de 2009

O frio que passou por baixo da porta

Era noite. Não havia uma alma viva na rua. O rádio, silencioso, cantava músicas repetidas. Programação para boi dormir. Um burburinho começou a entrar por baixo da porta. A temperatura baixou de repente. Abriram-se janelas para ver o sucedido. Cavalos de ferro caminhavam em carreata. Foguetes clareavam o céu. Panelas eram batidas. O povo estava na rua. Outro povo estava nas casas. Uma mulher era carregada nos braços de populares engomados trajando ternos negros. Ela estava de branco. Não era noiva. Já era mulher casada. O marido coordenava os seguranças por meio de radiocomunicadores. Parecia um balé, se não fosse a música ruim que começara a tocar repetindo o nome da mulher. O espetáculo durou até a madrugada. No dia seguinte, na televisão da padaria, a imagem de um velho repercutiu entre poucos. Os cabelos brancos foram substituídos pelo vestido branco. Outra imagem marcante apareceu na televisão logo em seguida. Ao lado da mulher de branco outro velho sorria. Sabia que era um velho por causa de outros carnavais. Naquele momento não poderia ser chamado de velho. Os cabelos eram muito negros assim como o bigode que lhe manchava a cara. Marca registrada. Satisfaziam-se os dois com a pobreza daqueles povos. Dos que saíram à rua e dos que mantiveram-se em casa na noite anterior.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A viagem de volta não custa nem um real

Subiu na vida. Sem escrúpulos. Roubou, matou, estuprou. Tudo que seus pais não lhe ensinaram ele fez. Criou novos crimes, novas formas de cometer crimes. Adaptou-se ao novo meio em que entrou pela porta da frente. Milhares de votos o colocaram nos altos das escadas das democracia representativa. Fez-se um novo homem com velhas práticas, porém recriadas de forma a fazer crescer o bolo. Verbas e mais verbas foram necessárias para alimentar o bolo, fazê-lo crescer. Cometeu um erro. Colocou a mão na cumbuca de outro, seu par. A queda foi rápida. A viagem de volta não custou nem um real. Custou milhares, assim como os votos que recebeu na última eleição.

sábado, 18 de abril de 2009

Cruzado não é real

Um cruzado se foi décadas atrás um real. Perdido, contrariado. Ele não viu um centavo. Bandido levou. Ele urrou. Quando se perde uma vez, espera-se um bom resultado outra vez. Compensação não há em aposta cega. Seja na runa, seja na selva.

Co & Cia

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Ementa

Eu fujo
Tu corres
Ele se perde
Não me vale
Um quinhão
Político sem
Um culhão.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Tô Cheio!

Eu canso de dizer
Canso de falar
Penso numa saída
Sem contrariar
O que sinto de verdade
O que vejo na realidade

Mas, um dia, eu serei
Mais livre do que sou
Não sei, hoje, o que fazer
Mas sei bem pra onde vou
Contar uma anedota
Inventar uma lorota

Esvaziar minha cabeça
E ser feliz sem enxaqueca.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Cansado de lamentar

Foi à loja de armas. Comprou uma arma e duas balas. No estabelecimento ao lado comprou um terço. No supermercado da esquina, uma garrafinha de vodca com limão. Invadiu a sala de um sujeito gordo, careca e torcedor do Ferroviário. Jogou o terço para o infeliz, mandou ele rezar e cravou duas balas na cabeça do maldito. Voltou à loja de armas para perguntar quanto valia a arma usada. Vendeu e saiu. Pensou. Deu meia-volta. Não largava o hábito das promoções escritas a duas salas do atentado, onde realizava campanhas publicitárias de baixo custo, mas de forte apelo. Sugeriu ao dono da loja de armas: "Kit para matar ex-chefe. Uma arma e duas balas. Para o caso do infeliz não morrer de primeira." Bebericou a vodca de um gole só e atravessou a rua.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Uma cruz na estrada

Eu vi. Juro que vi. Uma cruz na estrada. Logo ali. Volta o carro! O retorno imprudente plantou mais duas cruzes na estrada em pleno feriado da Cruz.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ah, se todo dia fosse véspera de feriado!

Você deve estar pensando que eu sou louco. "Melhor, mesmo, é que todo dia fosse feriado!" É que eu tava pensando nisso hoje, ao transitar pela cidade dentro de um coletivo motorizado. 20 minutos até o centro?!?! Só em véspera de feriado. Nem no sábado passado eu consegui uma proeza dessas. Foram 35 minutos em "inútil". No corredor da Antônio Carlos, próximo ao Hospital Belo Horizonte, onde o cheiro de urina das obras no esgoto virou referência de cego - a outra referência de cego eu falo mais pra frente -, os coletivos andaram tranquilamente, sem o alvoroço dos carros-que-transportam-uma-pessoa-apenas. Só deu tempo de ler uma matéria sobre maconha, três colunas de opinião e ver algumas propagandas na revista. Tá bom. Você quer saber qual a outra referência de cego em Belo Horizonte, né? É o ponto de ônibus em frente à faculdade de engenharia da UFMG na Espiríto Santo. Pronto. Falei. Você fecha os olhos. Quando o ônibus passar por esse ponto, prepare-se, a sensação é única: parece que a gente tá dentro de uma privada esperando que alguém dê descarga.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um refúgio

No meio de livros e traças, ele se refugiou da chuva. Sentou num canto da loja, leu, leu e adormeceu.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O caminho mais curto

Já diziam em Goiânia: o caminho mais curto para o céu é subir no Pathernon, na Rua 4. A trilha sonora dos suicidas: tente outra vez. Eu nunca vi um pássaro sem asas voar. Gostaria de acompanhar aqueles segundos que separam uma pessoa do concreto de uma calçada. Talvez, por isso, eu vivesse por ali, na poeira de sebos ouvindo música e lendo trechos de livros de graça. Sempre que me enfurnava num daqueles becos do saber, tinha a impressão de que a minha vida seria curta. Não usava máscaras como as do Ladislau, funcionário da biblioteca da FACOMB. Meu pulmão deve ter, além de ácaros, muitas letrinhas roídas por traças.

domingo, 5 de abril de 2009

Detonando a bicicleta velha

Morrinho. Já viu? Quem andou de BMX conhece muito bem. No N5 de Carajás (PA), havia uma pista de bicicross no fundo do clube Serra Norte. Ali peguei uns tombos quando a traseira da bicicleta insistia em se manter no ar. Não conhecia manobra nenhuma de bicicross - até hoje não conheço -, mas me divertia um bocado no barro da pista em dia seco. Em dia de chuva, nem me atrevia a escorregar pelas rampas e morrinhos. Mas por que comecei este texto com a palavra morrinho? Simples. Sempre que via um morrinho na minha infância eu puxava a bicicleta velha para o ar no primeiro instante em que o pneu dianteiro tocava o início do morrinho. Tava ali a minha manobra - única - sendo exaltada com ares de profissional. É como se houvesse uma plataforma invisível acima do chão. Eu andava por alguns segundos nessa plataforma. Hoje, quando vejo skatistas andando em plataformas invisíveis, sinto saudade daquele tempo. Depois da primeira infância em Carajás, experimentei a segunda infância em Castanhal, também no Pará. Ali aprendi a andar em apenas uma roda. Um dos meus sonhos mais recorrentes de noites adultas é achar que estou percorrendo vários quarteirões desse modo. A bicicleta velha ficou no passado.

sábado, 4 de abril de 2009

Oi, Rio!

Quando rio
Transbordo de alegria
Ou
Transbordo de alegria
Quando rio

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Sol P&B

Sol que bate nos olhos
Preto e branco é o sol
Que não arde na pele
Que faz cerimônia
Ao entrar pela janela

Sol que rói a corda do enforcado
Preto e branco é o sol
Que não reflete no espelho
Que faz cerimônia
Ao entrar pela janela

O sol que bate na porta da gente
É luminoso mesmo no escuro

O sol que se esconde da noite
Brinca com a lua

Dia sim, dia não.