domingo, 20 de dezembro de 2009

O silêncio noturno

O barulho da fábrica abala seu sono. O tremor da rua ao passar do ônibus também abala sua noite de descanso. Suspenso em sonho, cai em pesadelo. O silêncio noturno o surpreende às cinco da manhã.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Nuvem de Esperança ou Chuva Triste

As primeiras gotas de água caíram no telhado e desceram pelas janelas ao raiar durante a noite. Na cama, um lugar ocupado apenas; o outro estava vazio. O frio e alguns respingos entravam pelo basculante aberto. O sono custava a fechar as cortinas. Revirava o corpo numa dança cansativa e fatigante. Olhava as horas no céu do quarto, teto claro. Uma nuvem percorria o teto do mundo. Uma nuvem imensa, branca. Molhava tudo que estava debaixo, até aquela janela, única comunicação do quarto com o mundo exterior. Contava os segundos, mas o barulho mudo era ensurdecedor. Fingia que contava, então, para não acordar as testemunhas imaginárias do outro lado da cortina. Quem dormiu esquece o povo que fica do outro lado cortina. Do outro lado da cortina estavam minha solidão e eu. Uma chuva triste batia na janela uma canção triste. Respingos refrescavam minha face de olhos fechados tentando dormir. Eu contava as gotículas. Teimoso, não levantava. Quem manda aqui sou eu, pensava. Ou não? Eu quero dormir, eu desejo dormir, repetia. A manhã estava chegando. Amanhã não quero perder o dia, completava. Eu quero...

sábado, 12 de dezembro de 2009

Ópio Ódio

Um pê vira dê. Ópio. Ódio. Nó. Górdio. Primórdio. De ponta cabeça. Plantando banana e asneira. É o ópio. Oh, Dio. Um sossego desassossegado. Muito esse pronunciado. Escrito. Pregado. Como os olhos marejados no rio de palavras do último livro lido. Velhos militantes. Histórias do século passado. Anarquistas, minhas listas. Livros amontoados no quarto do computador. Dois ou três na bolsa. Um ombro deslocado. Só para escrever que o pê vira dê quando o vício corrói o sentimento e o torna ódio. Primeiro lugar. No pódio, tristeza.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Perdido na Chuva

Um guarda-chuva e suas goteiras. Lastimei por cinco quadras. Encostei debaixo da marquise. Corri os olhos nas manchetes. O ônibus encostou no ponto. Saí na chuva para me molhar. Atravessei a borboleta. Uma fração de segundos. Olhei pela janela embaçada. Ele ficou lá, escorado na parede da agência bancária. Perdido na chuva. Ele e suas goteiras.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Olho no Asfalto

Um desvio às cegas, tiro o olho do asfalto. Miro a bala perdida e fujo do cerol-corta-pipa. Outra vez retorno à casa, refazendo coisa antiga, coisa tardia. Eu contei mil passageiros e uma roleta. Roleta-russa, não francesa. Eu conto contigo naquele canto. Canto escuro iluminado pelo olhos que um dia foram seus, hoje são meus. Eu retorno à casa, grisalho, refazendo coisa tardia, coisa antiga. Retorno ao ofício, escrevendo um pouco de sentimento, um pouco piegas, um pouco sincero, um pouco pouco.