segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Se um dia peguei em armas

Foi para extinguir-me. Ouvi a rebentação do rio em noite noturna amazônica. Cantei uma ode à madrugada presente e fui dormir a cabeça em travesseiro duro no chão de uma palhoça. Já vivi em tantos lugares. Já fui tantos. Hoje sou pouco. O suficiente para escrever um sentimento de despreparo para a vida. Eu rondo os mistérios do meu ser com medo de ficar de fronte a uma arma novamente. Sinto minhas pernas cambalearem, mas uma força me leva em frente. Uma vontade de fazer parte de uma execução. Uma bala na cabeça em dias de Corpus Christi. Já fui herói. Não sou mais.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Grito

Matei o grito com silêncio. Perturbador. Olhei em volta e não mais havia silêncio, apenas um ruído, baixo. O ruído continuou por horas não contadas em relógios de paredes até que abri a gaveta, a última do armário mais alto, mais velho, e encontrei um novo grito, mais alto, mais velho do que aquele outro. Coloquei-o na garganta e fiz reverberar em grunhidos silenciosos e descompassados. Ainda sinto uma vontade de gritar, mas em silêncio vou levando a vida.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Vermelho como os teus olhos

É o sangue. Dentro dos olhos, marejando, diluindo a visão. Vermelho como os teus olhos nunca vi. Talvez um dia, em verdes prados, ostente na penumbra de uma árvore solitária um sorriso branco que contraste com o vermelho, reluzindo um recomeço de história. Que o sangue, derramado em lágrimas, desenhe um coração em teu peito, pedindo passagem no curto espamo de um palpitar. Não seja infeliz em comunidade, seja feliz em solitude.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Do tipo que não manda flores

Olá, como vai? Eu vou indo. E você, tudo bem? Já dizia o Chico. Eu não sou do tipo que manda flores. Não abro porta de carro, pois só ando de ônibus. Eu sofro da síndrome do marido-que-não-compra-presente-pra-esposa. Um dia, quiçá, ela me leve pra jantar. Nossa filha pretende fazer jornada tripla. Quer ter três empregos: médica, estilista e... não me lembro o último. Espero que não seja empregada, seja uma trabalhadora ciente dos seus direitos ou uma empreendedora, expressão-função tão em voga. Quem sabe, quando ela crescer, compre um carro-emissão-zero que voe por aí e leve papai e mamãe pra passear num lugar que não seja shopping center. Hoje ela questionou. Dois finais de semana seguidos que frequentamos um estabelecimento desses. No próximo, oxalá, caminhemos num dos parques da cidade. Sou do tipo interiorano, que olha pra árvore como se fosse algo sublime. Eu acho sublime. Passarinho cantarola, eu sorrio. Defecou em mim, eu fico puto. Lanço impropérios e xingo até a formiga que, tranquila, trilha um caminho de parede. Amanhã pretendo acordar cedo, mas conhecendo-me, reconheço, é mais fácil um camelo... você sabe o resto. Pois então... amanhã é dia de ver Pimpão na televisão. Será que o jogo vai ser transmitido? Vou lá na rede navegar. Inté.