quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Eu quis comprar o céu

Entrei na primeira igreja que vi pela frente. Queria comprar o céu. Tava em oferta, dizia a placa. Parecia barato o negócio, mas as condições me demoveram da ideia. Aquele deus que me mostraram não era humano, era mais um capitalista profano, vendendo algo que não lhe pertencia. O céu é seu, é meu, é de quem possar olhar. Vou tentar comprar uma casa assim que for possível. Naquela igreja do começo dessa história, eles não vendem casas, apenas céus e automóveis. E te dão um adesivo para colar no vidro: "Guiado por Deus." O veículo deve vir arrendado em nome Dele.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ótimo

Ótimo. Perfeito. Nada mal.
Não ser o que se quer ser.
O que fazer?
Nada a ver. Sem o quê.
Eu sei viver.
Ótimo não é perfeito.
É apenas ótimo.
Como aquilo que se deseja e se consegue.
Como e aquilo numa mesma frase
É mais uma forma self service
De comparação.
Ótimo. Estou feliz.
Por "ter" um teto e ter uma família.
Mulher e filha.
Minha família.
Não estou mais aqui.
Estou ali. Ao lado.
Mesmo CEP.
Aos 90 minutos de partida.
Um tempo para descansar.
E voltar ao trabalho segunda ou terça.
Ótimo pra você?
Pra mim tá ótimo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Não vi o que você fez

Ontem, no meio da novela das oito, surgiram novos personagens. Um morreu, outro matou e outra casou. No final-feliz alguns nasceram, outros fugiram. Só não vi o que você fez pro jantar, pois o gás acabou.

Folhas em Branco

Folhas em branco caíram das árvores
Máquinas cospiam folhas em branco
Das árvores mais altas da praça
Da Praça dos Escritores
Saiam pessoas das sombras
Em busca de leitura substantiva
Rodeando e catando papéis
Máquinas no alto
Escritores perdidos
Flores borradas de tinta invisível
Leitores
Leituras
Perdidas numa tarde de quinta-feira
No meio da praça
Garis varriam páginas em branco
De uma história não escrita
Apenas sonhada
Não perca o fio da meada
Viva o sol antes da geada
E abrigue-se debaixo
De uma árvore escritora
De páginas em branco.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Papelinho Poeira

Debaixo da cama havia poeira. Poeira de não-sei-quantos-dias-atrás. Lavei o chão da casa quando para cá me mudei. Usei mangueira, água e sabão. Outro dia olhei debaixo da cama e vi essa poeira que-não-sei-como-foi-parar-ali. Coisa estranha. Debaixo da poeira havia um papelinho. Busquei o dicionário para ver se era papelzinho. Saquei o "z" para ler o papel pequeno. Nada. Estava em branco. Como não sou adepto de conspirações pequenas, apenas das grandes, rasguei o papelinho e joguei na lixeira. Se você pensou encontrar alguma explicação para o título, desculpe o exercício de escrever sobre algo tão singelo. Um papel pequeno debaixo da poeira que estava debaixo da cama. Bem, eu não limpei aquela sujeira. Eu a deixei lá, com um espaço limpinho demarcado. Um espaço como aqueles de cadáveres em cenas de crimes. O cadáver, desta vez, fui eu, admito, que recolhi e descartei numa lixeira de banheiro. Não encontrarão nenhuma digital para incriminar-me. Usei luvas. Agora, por que usei luvas para efetuar uma tarefa tão simples? Não sei. Só sei que não não sou adepto de conspirações pequenas, apensas das grandes.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Presente! Ausente!

Marchas pelos direitos humanos. Presente!
Marchas por melhores condições de trabalho.Presente!
Marchas contra a devastação da Amazônia. Presente!
Marchas contra a privataria insana de um mandatário. Presente!
Marchas contra a TFP. Presente!
Marchas contra a ditadura militar. Presente!
Uma cova rasa na região do Bico do Papagaio. Presente!
A história ainda não contou suas verdades escondidas
Entre literaturas amenas de diários e semanários
Para saber a verdadeira história do Brasil há três caminhos:
Bibliotecas, Internet e Sobreviventes.
Não queremos BIS de corpos lançados ao mar
Ou enterrados em valas,
Como arquivos velhos numa caixa empoeirada.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mudanças: Dona Clara nos deixará partir?

Dona Clara, que nos acolheu de braços abertos há mais de um ano, parece não se sensibilizar com nossa situação. Um bairro periférico, porém vitimado pela especulação imobiliária. Há proprietários preferindo deixar imóveis vagos do que alugá-los. As placas de "Vende-se" entulham o visual, criando-se a falsa impressão de que todos que aqui moram partirão para algum lugar distante. Não. Nem aqui moram. Apenas possuem. Possuem o espaço em que outras pessoas vivem. Estou cansado de mudar de habitação. Desde os primórdios vivo como nômade, cambiando de lugar. Tanto CEP já fez parte da minha vida. Acho que vou ter que alugar uma caixa postal. Por que eu não posso tê-la também?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Arrastando Móveis escada abaixo

Na casa de dois pisos, o sujeito sobe e desce a escada pois lava roupa em tempo chuvoso ao som de Móveis Coloniais de Acaju. Eu não nasci com fama, mas arrasto Móveis escada abaixo pra ver se a roupa já está pronta pra pendurar no varal interno. No externo, o que tinha já secou e molhou algumas vezes nos últimos 30 minutos. Quem sabe eu perco peso nesta maratona.

domingo, 4 de janeiro de 2009

É hoje que eu não durmo!

Rolando 17 horas, não foi nenhum recorde, acho que não durmo hoje ou amanhã. Preciso parar com isso. Daqui a pouco tô dormindo de ponta cabeça debaixo da escada. Vou ler alguma coisa do século passado pra ver se relaxo. A última atividade não foi bem o que eu esperava. Ainda espero mais.

O álcool era pra verruga

Verruga é um negócio muito feio. Tinha duas aqui no peito. Digo "tinha" porque tinha. Não tenho mais. No intervalo entre este texto e o outro eu cortei esses bagulhos. Juntei uma garrafa de álcool, daquele que bêbado bebe, e tomei coragem. Não doeu, agora, suponho, que estou anestesiado. 4%. Amanhã não sei o que virá. Mas agora eu olhei e ficou mais bonito. Deve ser o estresse. Essas coisas não me apareciam quando eu vagava. Foi só ter registro em carteira de trabalho que o negócio apareceu. É, meu filho. Quem diria que você estaria fazendo cirurgia plástica caseira! Se o resultado for duradouro, abro uma clínica e começo a ganhar dinheiro com isso. Extreme.

O dia é noite

Como um vampiro, virei o dia de olhos fechados, dormindo o sono dos cansados. O dia foi noite, neste sábado. A noite não sei o que será. Estou cansado, muito cansado. E é férias, ainda. Após, não sei o que será. Gostaria de estar mais produtivo, menos cansado, menos perdido. Tenho um teto, que não é meu. Pago por ele. Gostaria de não ter que pagar para usufruir, mas de pagar para tê-lo. Se tem uma coisa que penso em comprar é uma casa, apartamento não. Depois, quem sabe. Agora, só penso nisso. Cansa pagar aluguel. Tudo bem que é devido, tem um acordo. Eu moro, eu pago. Mas vou ver esta semana se o Governo patrocina um trabalhador na compra de uma casa para moradia. Vejo por aí muito financiamento para investimento. Gente que compra imóveis não para morar, mas para alugar. O Governo não deveria permitir isso. Dinheiro público não pode ter intermediário que não seja público. Mais um episódio, mais uma terapia da palavra. Sinto uma leveza nos pensamentos, mas o corpo cansado.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Ele foi pelo muro até encontrar o NADA.
NADA era uma pichação em cima da palavra AMOR.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Centro

Fui ao centro hoje. Chamam aquilo de centro. Pra mim é periferia. Meu centro é o meu bairro com suas ladeiras e um rio que corre debaixo da avenida principal. Córrego subterrâneo. Um sujeito escreveu um livro sobre "causos". Há vários córregos subterrâneos em Belo Horizonte. No "centro" tem demais. Quem enterrou os córregos não imagina como seria lindo ver alguns vales nesta cidade. Progresso? Isso é pra carro e especulador imobilário. Eu queria ver natureza. Ah, no centro tem! Chama parque municipal. 452 dias que moro aqui e nunca fui ao parque municipal. Como eu sei o número de dias? Usando uma calculadora financeira. Amanhã serão 453 dias. Serão? Será? E se eu resolver quebrar este tabu? Jogador de futebol é que gosta de quebrar tabu. A maioria diz que "tabu foi feito pra ser quebrado". Então, come a mãe, sô! Tabu é tabu, meu filho...

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Gosto

Infinito.
Gosto.
Gosto.
Sabor.
Amor.
Desejo.
Paladar.
Língua.
Ou não.

Acertei no Milharal

Faturei um milhão
Jogando em números.
1,2,3,4,5,6
Deu certo.
Dividiram 100 milhões
Entre 100 teimosos
Da seqüência.
Como daquela vez
Em que não deu zebra
Na Loteria Esportiva.
Receita para o sucesso:
Seja o último,
Pois o último será o primeiro.
O primeiro a perceber que
É inútil usar matemática
Numa coisa aleatória.