quarta-feira, 29 de junho de 2011

Menino Menina

Era menino. Era menina. Era Bento. Era Laura. Era um. Era uma. Talvez dois. Frente e Verso. Menino Bento. Menina Laura. Brincando na barriga da mãe Bento e Laura pregavam peças nos curiosos que tentavam identificar o sexo daquele pequeno ser. 3D 4D não foram suficientes para medir o tamanho do piupiu. Pois do lado de dentro daquela barriga há um pequeno, uma pequena, que se diverte enquanto não sai para este mundo exterior. No interior ainda permanece a incógnita. Não creio que uma nova opinião transforme menino em menina ou vice-versa. Vamos esperar a nova jogada de pique-esconde do bebê ou da neném que vem por aí.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Todos os Nomes

Eu percorro sebos em busca de livros. Nem sempre tenho em mente o que quero ou que espero encontrar. Meses atrás, na Livraria do Amadeu, na Rua dos Guaranis, encontrei este Todos os Nomes, de José Saramago. Já havia me iniciado em Saramago com o Ensaio sobre a Cegueira. Leitura interrompida pelo anseio de saber logo o que se passaria na história. Tirei o DVD da história na locadora e não li mais o livro. Então, por coincidência, ou não, vejo que este Todos os Nomes, que acabo de iniciar sua leitura, é sobre um Sr. José, escriturário, assim como Bartleby, de Herman Melville. José Saramago, Sr. José e eu, também José. A leitura de Saramago, admito, é difícil, porém saborosa. Cada palavra, cada descrição, é simplesmente fundamental. Quando afirmo que a leitura é saborosa é isso mesmo, deliciosa, alimenta a alma e me faz viver melhor. Mesmo que eu feche o livro e volte a ser inundado por dúvidas, sei que ao abrir um livro como este de José Saramago poderei mudar de dimensão, nem que seja por um pequeno instante, por um virar de páginas. Ontem, sentei-me em uma igreja dedicada a um santo de nome José. Por me chamar José, apesar de muitas vezes apresentar-me pelo segundo nome, Cristian, resolvi "criar" uma coincidência abrindo o livro de José Saramago ali e ler um trecho de seu livro, principalmente, uma parte em que o personagem Sr. José estava grafado. Por um momento, eram quatro pessoas em carne ou espírito com os mesmos nomes: José, José, José e José.

sábado, 18 de junho de 2011

Céu bisbilhoteira

Ontem a noite me observava. Uma lua cheia possuía sobrancelhas de nuvens. Sobrancelhas finas, para demonstrar que o Céu é mulher: a Céu, como a cantora.

Literatura no trânsito belo-horizontino

Ainda bem que não tenho carro, pois a cada viaduto da Avenida Cristiano Machado, em Belo Horizonte, seria uma batida. Cada viaduto tem o nome de um escritor mineiro. Algumas placas registram trechos de obras desses escritores. Quando dizem que o brasileiro não lê muito, imagino que no trânsito seja muito menos. Imagine a situação. O sujeito bate o carro num poste e justifica ao guarda de trânsito: "eu estava lendo um trecho daquele poema do Drummond e não vi o poste, poderia ser uma pedra, né?, mas era um poste". E o guarda, se fosse leitor também, poderia dizer o seguinte: "não, meu amigo, você está errado, é do Paulo Mendes Campos aquele poema".

terça-feira, 14 de junho de 2011

Gato e Cachorro

Outro dia eu vi um gato sentado num refletor de jardim do Parque Municipal. A noite estava fria e o bichano cochilava sobre a lâmpada. Outro dia. Não foi hoje. Outro dia eu vi um cachorro usando roupa de frio. Ele caminhava no passeio externo do Parque Municipal. Outro dia que não foi hoje. Eu sou fascinado por cães. Quase nunca olho nos olhos de seus "donos". Eu segui o cachorro meio atabalhoado, ele, não eu. Outro dia, quem sabe, seja eu um cachorro ou um gato de óculos. Outro dia. Não hoje. Quem sabe, amanhã.

domingo, 12 de junho de 2011

Suspiros Noturnos

As cortinas encerram o lugar da luz exterior. Suspiros noturnos são abafados. Suspiros vagarosos. Suspiros dorminhocos. Um mundo distante de olhares curiosos. Um mundo separado de outros mundos por tecidos pesados. Uma fresta libera um fio de luz vez ou outra, quando o ventilador insiste e desmanchar o ambiente com suas brisas, suspiros de máquina, concorrendo com os suspiros noturnos de gente. Em dias frios, os suspiros são mais demorados. Ganham a manhã e, às vezes, o começo da tarde, preguiçosamente, tornando os dias mais curtos. Inverno.

domingo, 5 de junho de 2011

Desejos

O desejo de morte morreu. Morreu antes de ser desejada. A morte morreu. Assim como o desejo. O escritor não encontra mais palavras para descrever o assassínio de outros que não ele. O desejo suicida de não escrever, de fenecer, de não se ter a quem escrever, de não ser. O desejo de morte morreu. O desejo de matar, no entanto, sobrevive. Ai daquele que escrever por linhas tortas. Ai daquele que atravessar o meu caminho. Ai daquele que mantiver o seu jetom e não prestar contas certas ao eleitor. Matarei na próxima eleição. Em sua urna, não depositarei voto, apenas uma flor. Um cravo, encravado em sua testa. O desejo de morte morreu. O de matar sobrevive.