sábado, 27 de março de 2010

Trabalho

Soturno. O grisalho percorria as ruas do centro em busca de histórias. No quadrilátero da rodoviária, também chamado "inferno do crack", coletava retratos de uma sociedade distante das colunas sociais. Remunerava cada transeunte com uma moeda. Sabia que em pouco tempo o metal entraria no pulmão dos anônimos em outra forma. A remuneração em troca de umas palavras, de um perfil exclusivo de uma alma que se esconde durante o dia. Nunca fumou, nunca bebeu, nunca fornicou. Mais puro que um senador. Caminhava agasalhado, colhendo impressões não digitais. Essa tarefa, colher impressões digitais, deixava aos policiais do perímetro. Paisanos, caminhavam como aqueles viciados da rua escura de quatro faixas de rolamento. Achacavam qualquer um com arma em punho. Sobravam bofetões aos inocentes. Uma cruz para os culpados. O grisalho já havia cruzado com um paisano. O sujeito enfiou o ferro em suas costelas e rogou-lhe uma praga nos ouvidos. As palavras mais sujas que ouvira em sua vida. Mal sabia o paisano que o grisalho era o matador da Venda Nova, autor do best-seller "Encontros Marginais". Um giro perfeito sobre o próprio eixo e um golpe certeiro na jugular destruíram a empáfia do servidor público. O grisalho despiu-se do agasalho e seguiu seu caminho à caça de histórias para seu novo livro.

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