quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O espelho quebrado

Era velho. Muito aço. Uma figura invisível em frente ao espelho. Também velho. Pouco aço. Muito magro. Acordou cedo. Não tinha o que fazer. A barba ali. Os olhos. As lentes. Uma interrogação. Queria gritar. Queria correr. Estava cansado. Fugir não queria mais. Olhou nos olhos da imagem. Fingiu sorrir. Não aguentou a falsidade. Chorou. Saiu do banheiro. Cansado. Parou. Girou o corpo e olhou novamente para ele. Correu. Acordou horas depois. O sangue já estava duro. Camadas vermelhas na pele. No chão. Levantou apoiando-se na pia. Olhou para o espelho. Ele não estava lá.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Luta Suja (ou O Sorriso dos Pelegos)

16 dias foi o que durou a greve. Na assembleia, os representantes dos grevistas confraternizavam com os pelegos. Uma assembleia ilegítima. Juntos no início da greve. Separados pela orientação do Comando Nacional no fim. Poderia ser um recomeço. Os golpes foram dados e os bancários foram destruídos aos poucos. No fim, apenas os servidores da Caixa. Novamente, sozinhos, permanecem em greve. Na assembleia do BB, pelegos sorridentes já sabem qual o resultado. Alguns derrotados - a maioria silenciosa - começam a sair antes do fim do espetáculo, trágico espetáculo. Uma categoria que foi chamada para luta, de repente, olha para o "corner" e não vê seus preparadores, seu "staff". Olha para o canto oposto e enxerga o óbvio. Luta sozinha. Luta desnorteada. Sua estratégia foi tomada pelo adversário. Quantos "rounds" vai durar a luta? Foram 15 "rounds" vencedores para ir a "knockout" no 16º "round". Alguns choram com a derrota. Outros se comprazem com a vitória. Luta suja.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sonâmbulo

Sonâmbulo não passa fome. Come as horas mal dormidas. Senta em frente à televisão. Folheia um livro, uma revista. Liga o computador. Assalta a geladeira. Dorme de barriga cheia. Engorda. Acorda desgraçadamente à tarde, ou quase isso, e se debate assustado por causa da hora, do trabalho. Acalma-se porque lembra que está em greve. Fica triste porque perdeu novamente metade do dia. Pensa. Amanhã. Amanhã, não. Hoje. O que vou fazer? Preciso consertar isso. Onde consertam relógio biológico? Onde o Ailton foi comprar bateria para o alarme do carro? Não sei. Vou ligar para ele. Não sei o número. Quem sabe ele vai amanhã à assembleia dos bancários. Vou perguntar para ele. Depois de dormirrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ele morreu meio torto

Largado no asfalto. Era ele, meio torto, meio em partes, incompleto, diriam. Eu o vi lá atrás, costurando o tráfego, meio ébrio, meio ligeiro. Avançou um ou dois sinais. Colou na traseira do ônibus da frente e sumiu quando viu uma brecha à direita. Pela direita é errado. Acho que não aprendeu. O caminho correto é pela esquerda. Comecei a ler poesia nas obras da Antônio Carlos. O sistema lá tá um caos, mas o que surgiu de poesia nas paredes tá valendo a pena. Na Lagoinha, na altura do IAPI, minha mulher reparou, surgiram muitos mendigos de repente. Será que estavam debaixo do EPA? Cavaram tanto lá que tem dois níveis abaixo da avenida antiga. Então. Foi-se. O motoboy não chegou nem ao Complexo. Ele tocou um carro na lateral o suficiente para desequilibrar. Um ônibus, um fiat e um caminhão de obra fizeram o resto do serviço para o IML. Carne moída. Meio que morreu de estupidez. Podia ter seguido pela esquerda e parado de costurar o trânsito. Afinal, ele era motoboy ou costureira?

domingo, 4 de outubro de 2009

Ruído Noturno

Abafado. O ruído noturno, o ranger da cama no andar superior. O desligar. Televisão quase muda na madrugada faz muito barulho. De dia esse som não é nada. De madrugada a coisa muda de figura. É barulho, simplesmente. Subi os degraus de carpete. Silencioso. Liguei a máquina para escrever um poema. Não saía nada. Nem um conto. Eu troquei a olivetti pelo computador há muito tempo. Hoje, escreve e apago num piscar de olhos. Não tenho memórias no papel. Apenas no HD, coração duro da máquina. Expus um pouco na rede, mas o grosso está em minha cachola. Projetos não iniciados formalmente. Imagens, muitas. O ruído noturno aumenta. Uma fábrica distante inicia o turno à meia-noite. São quilômetros de distância. Se não durmo antes da meia-noite, só depois das três é que vou deitar. Aí só acordo à tarde. Metade do dia perdido. Mas a madrugada foi produtiva. Produzi imagens que guardei na cabeça, meu HD. Quem sabe um dia coloco tudo no papel. Haverá árvores suficientes?

sábado, 3 de outubro de 2009

O labirinto do mercado

Um labirinto ou um boteco? Eu vi um mercado de flores e essências. Eu vi outro mercado de gente e muito álcool. Gritos de torcidas rivais em convívio pacífico. Uma hora era Cruzeiro, outra era Atlético. Mais Atlético que Cruzeiro. Se estivesse no alto da serra talvez a platéia azul-e-branco fosse maior. Os artesanatos mineiros são um barato, seja com que matéria-prima for: madeira, metal e até frutas e leite. Eu me perdi algumas vezes pelos corredores. Não gosto de lugar fechado e cheio de gente, mas no mercado haviam corredores abarrotados de gente e alguns até vazios. A movimentação por esses corredores uma hora cheios outra hora vazios foi o que permitiu que não surtasse ali mesmo. Ah, Belo Horizonte, essa geografia sua também confunde. Uma hora estamos no nível da rua, noutra hora estamos alguns degraus acima.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Rio continua lindo?

Não me negue a beleza de sua geografia
Não me negue o benefício da dúvida
O Rio continua lindo?
O Rio continua indo?
Os cartolas sorriem mais dentes que a população
Esperando o resultado, a aprovação
Cidade olímpica, com vários problemas
Cidade olímpica, com várias soluções
O Rio continua lindo?
O Rio continua indo?
Quanto mais vai atrás de aprovação
Mais distante fica da população