domingo, 21 de junho de 2009

Perdido entre livros

Não havia mais personagens no armário. Cheio de livros, apenas traças povoavam aquele mundo. Um em cima do outro, as letras percorriam páginas numeradas. Sem personagens. Elas, eles, todos haviam fugidos da fome de papel das minúsculas traças. Era um armário guarda-roupa utilizado para guardar livros. Guarda-livros. Biografias, ficção, ensaios. Ótimo alimento para as traças. Batendo o teclado do computador descobri entre-teclas um som que vinha do armário. Baixinho. Fui ver. Liguei a luz do quarto, abri a porta do armário e procurei. Havia parado. Não tinha som. Desliguei a luz da habitação, mas deixei a porta do armário aberta. Era um teste. Encontrei. Perdido entre livros, estava ele, o último personagem. Peguei-o em minhas mãos, aproximei-o da tela do computador para enxergá-lo melhor. Susto! Ele era eu.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quando o saldo devedor sai do controle

Minha renda não me basta
Há um saldo devedor em minha frente
Eu controlo, mas não basta
Quisera conseguir não utilizá-lo

Quando volto os meus olhos
No vermelho, me assusto
Em desespero
Pero un día, yo lo creo

Sairei por cima do azul
Poupando suor e
Fios de cabelo

Eu só quero o meu dinheiro,
Nada mais
Mas os outros também o querem,
Muito mais.

sábado, 6 de junho de 2009

A fechadura do passado

Ele subiu a escada à procura do passado. Passos lentos nos degraus. Uma subida vertiginosa. Tentou o interruptor. Não havia luz. Caminhou na diagonal até encontrar um piso reto. Tacos encerados. Tirou os sapatos. Tocou a maçaneta do único cômodo do alto da casa. Fechado. Procurou a chave que guardara na memória de menino. Era fria. Inseriu na fechadura. Girou. Abriu a porta. O passado, realmente, não era algo para reviver. Fechou o cômodo e desceu a escada. Foi até a porta de entrada e saiu sem olhar para trás.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Frio, Fio.

Mãe, tá frio.
Manta, fio.
Eu não aguento mais.
Eu sei.
Cobre o peito e dorme.
Não dá.
Eu sei.
Mãe, tá frio.
Manta, fio.

No dia seguinte, a tevê estampava os dois corpos congelados num barraco de periferia.