sábado, 30 de agosto de 2008

Nas sombras

Sem identidade formal. Apenas o relacionamento precário. Trocas de palavras amistosas no café da manhã tomado no boteco da esquina. Não fazia nada. Fingia trabalhar. Saía do quarto-sala para o estabelecimento e, de lá, batia perna pro metrô. Operário. Era o que aparentava. Porém, estava sempre limpo, a roupa passada. A colônia exalando. Voltava à noite. Jantar no mesmo boteco. A comida: o que sobrava do almoço. O boteco ficava numa das ruas mais movimentadas de Belo Horizonte, mas não era muito acolhedor. O prato principal, muitas vezes, era o "torresmo de dinossauro". A luz da sala permanecia acesa até a madrugada. Nenhum barulho. Não havia televisão. Os vizinhos não o achavam estranho, pois não havia vizinhos. Todos os outros imóveis do prédio eram escritórios. O seu, apesar da cama, parecia um escritório também. Era um lugar limpo, ordenado. Não recebia clientes. Talvez os visitasse, e não fosse operário. Não levava pasta, nem papéis. Não podia ser um trabalho normal.

(Continua...)

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