sábado, 1 de outubro de 2011

O escritor morreu na praça

Parado. Tentava capturar o momento. Sentado na praça, o escritor perdeu o tempo. Seu bloco de notas aberto. Página em branco. Pessoas passavam ao largo. A fonte já secara. O grito das crianças misturado ao barulho dos carros que circulavam e circulavam e circulavam trabalhosamente. Queimando o combustível que movia o mundo. Calado, o escritor inspirava cuidados. Paralisado, sentia o chão sumir aos seus pés. Preso ao banco da praça, guardava sob as mãos os instrumentos de seu ofício. O caderno em branco e a caneta vermelha. O escritor morreu na praça aquele dia. Um animal surgiu da carcaça dele e saiu rugindo pelas ruas da cidade. Um animal estranho, parecido com os burocratas ou vendedores de estabelecimentos comerciais, parecido com o bancário vendedor de seguros, parecido com o auxiliar de escritório sem sonhos, parecido com uma massa disforme sem sentimento e sem interesse. O único interesse: dinheiro.

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