quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Recesso P(r)a(r)lamentar

Este blogue entra em recesso a partir de hoje. Motivos? São tantos! Estou tentando disciplinar a escrita para trazer, enfim, um trabalho consistente e, se possível, impresso. Resumindo, trata-se de um livro. Como no lado profissional a situação não anda muito boa, vou investir no que me dá prazer. Fiquei aqui remoendo pensamentos e decisivo o meu afastamento da rede por um tempo. O verbo disciplinar é muito disso que estou procurando. Vou tentar diminuir a leitura de livros, para não interferir no meu projeto. Estou acabando uma leitura "profissional" e política - "Greve na Fábrica", de Robert Linhart - e os próximos agendados são na área de ficção. Quem sabe venha uma inspiração daí. Saudações. E até breve.

sábado, 20 de novembro de 2010

Livre Livro Aberto

Eu livro
Tu lês
Ele lelé da cuca
Nós livreiros
Vós, avós, livrais
Eles livram, Habeas?
Corpus, nu.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Individualista Possessivo

Eu. Meu. Meu Deus. Eu, Deus.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um pouco de Ouro Preto

Florzinha amarela
Na soleira da porta
Como um livro aberto
Num dia fechado
Pela neblina
É um raio de sol
Em menor escala.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O broche

Três pedrinhas dispostas numa estrutura de metal brilharam em plena manhã nublada, um achado no chão. Seria uma senha? Seria uma mudança de rumo? Subi a montanha em busca de sossego. Duas linhas de ônibus depois, estava em frente a uma casa de loucos. Não havia vagas. Mas eu, louco de pedra, não podia desistir. Precisava de sossego, de descanso. Os nervos à flor da pele também precisam de tratamento. Uma academia para os nervos. Procurei uma segunda clínica. Também não havia vagas. Lotação esgotada. E se eu procurasse um cambista? Inútil. Na terceira casa de loucos, já descendo a montanha, previ o inevitável. Sem vagas. A quarta, talvez, me recebesse de braços abertos. Afinal, eu poderia ser o elo perdido da psiquiatria mineira. Um lelé-da-cuca-legal. Um louco de pedras brilhantes. Também não. Lotação esgotada. Sem agendamento, era impossível a internação. Como? Prevendo uma alucinação, uma crise? "Agenda para mim uma internação daqui a duas semanas, pois eu vou surtar?" Quem sabe se eu pregasse aquele broche na lapela invisível da minha camiseta vermelha, as portas se abrissem para mim. Já era tarde e não obtive êxito na internação. São dois dias longe do trabalho. São dois dias longe da lucidez. Ela vai e vem, de acordo com o humor, bem ou mal. Como era aquela frase? De médido e louco todo mundo tem um pouco? Ou era das famílias que falavam? De médico e louco toda família tem um pouco? Felizmente, eu tenho duas pessoas forte na família. Infelizmente, essas duas pessoas não podem dizer o mesmo. Estou tentando escrever algo inteligível, longe de ser um testamento, pois não cheguei a esse ponto, meu amigo. Um breve relato das agruras de um louco sem tratamento, mas com muito amor pela família. Os remédios já não tratam mais, apenas incomodam. Eu preciso me libertar das drogas, do vício, da alucinação. Eu preciso de uma vaga num hospício, para descansar de outro hospício, o ambiente de trabalho. Lá, no trabalho, eu faço algumas atividades repetitivas, eu repito para mim mesmo: você vai conseguir coisa melhor. Não odeio meu trabalho. Também não o amo. Em respeito às duas pessoas sãs de minha família é que me submeto ao capitalismo, ao ser explorado em troca de capital, de um capital que anda curto, como aquele cobertor de pobre. Um pagamento aqui, uma despesa ali. É preciso muito jogo de cintura nessa roda-viva. Como eu sempre tive essa cintura quadrada, tá difícil rebolar para angariar fundos. Melhor mesmo é internar, pois já estou cansado de exteriorizar essa deficiência. Quem sabe quando o verão chegar, e os demais loucos saírem dos sanatórios, eu consiga lugar naqueles palcos de lotação esgotada. Eu não gosto de sol, mas tem louco que gosta. Cada um com suas atribulações. Eu prefiro um pouco de sombra. Não estou em forma para me expor ao verão. Ainda estou na primavera. Já liguei para o doutor informando o problema. Ele me mandou procurar outro. "Outro problema, doutor?" "Não. Outro médico. Estou entrevistando candidatos ao seu emprego. São milhares este ano." "Doutor, só lamento. Por que não pede um afastamento para tratar os nervos?" Não sei o que aconteceu, mas do outro lado da linha só ouvi aquele singelo tum, tum, tum.