sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O silêncio

Fecho os olhos para não ouvir.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Cego no Haiti

Tateou pela superfície do corpo e não sentiu os membros. Estava escuro. Deu por falta de uma perna e de um pé. A perna esquerda e o pé direito. Acenderam luzes. Ouviu um alvoroço. Notou que uma laje despedaçara parte do seu corpo e que vários desconhecidos estavam felizes em vê-lo. Preferia estar cego a aleijado. Chorou.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Ratos e Baratas

Na área de serviço há um tapete de asas de baratas e fezes de ratos. A noite foi longa para os habitantes daquele compartimento. Uma chuva fina sobre o bairro, uma nuvem de veneno nas casas vizinhas. Procuraram o único lugar limpo do condomínio: aquela área de serviço. Área que na manhã seguinte apresentava a descrição inicial. O cheiro denunciava o ralo do banheiro. No entanto, depois de várias lavagens por meio de água, sabão e produtos químicos, o cheiro permanecia, e não era o cheiro do ralo. A porta empenada dificultou o acesso ao setor de lavanderia. O tapete era negro e marrom. Atrás das prateleiras de um armário de ferro não montado, residiam 3 corpos. Os vencedores da noite, os ratos, depois de exterminarem as baratas, morreram por conta do veneno das outras casas de onde haviam fugido. Um dos corpos era franzino, largado no meio da área, a um palmo da máquina de lavar roupas. Os outros dois corpos, um franzino tal como o primeiro e um enorme - do tamanho de um antebraço adulto -, estavam fixados entre duas prateleiras. Gordos e fedorentos. O trabalho para tirá-los dali exigiu uma pequena pá e alguns sacos pláticos. A respiração teve de ser feita oralmente. A podridão se fixava no cérebro quando inspirada pelas narinas. Não era dia de recolhimento de lixo. Apesar da penalidade prevista, não se podia manter aqueles corpos estranhos dentro de casa. Jogados do outro lado da rua, permaneceram até o dia seguinte, quando foram recolhidos pelos garis do caminhão de lixo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Eco

Ecológico
Eco
Lógico
Comunidade
Sem unidade
No muro
Não apenas palavras
O vento sopra
Os obstáculos fazem
Música
No muro aberto
Veia exposta pelo asfalto
E escrita por poetas
Belo Horizonte

A quinta coluna

No começo as divergências salientaram diferenças impossíveis de conciliação. A quinta coluna, o avesso infiltrado, abriu um buraco na organização celular. Um câncer. Uma vértebra fora do lugar ainda assim é uma vértebra. É um objeto estranho no conjunto da obra. Uma ovelha negra no meio de ovelhas brancas. Não é um lobo a quinta coluna. Ela leva o corpo a ter outro cérebro distinto daquele que ainda permanece no corpo original. Altera o movimento, se não estancada. A boca divulga palavras contraditórias de um cérebro sustentado por uma quinta coluna que não se sente mais parte do corpo de origem.