sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O último e o primeiro escrito do ano

A mão, pesada, sobre a folha, rabiscava algumas palavras. Era uma carta. Uma carta de despedida. Um testamento. Deixava de herança a memória. Os cabelos brancos que caíam sobre os ombros, muitas vezes, impediam a visão de coisas belas. Muito velho, ainda tinha forças para levantar o lápis e deslizá-lo sobre o papel. Vivia sozinho em seu mundo. Um mundo real, com toques de fantasia. O último escrito do ano era sua última oportunidade de expor o que sentia naquele momento. A virada do ano nada mais era que um evento como a virada de um dia ou a virada de uma página. Não via sentido naquela algazarra que se transformara a passagem do dia 31 para o dia 1º. Percebeu que já não era o último dia do ano. Suas palavras caminharam pelo papel na virada do ano e o ponto final foi registrado agora, aqui, no primeiro dia do ano. Feliz ano novo.